A cidade amarela
“Nós sempre teremos Paris.” Mesmo quem nunca assistiu à cena final de Casablanca, clássico do cinema de 1942, já deve ter ouvido a frase emblemática ao menos uma vez na vida. Além de nos remeter à mais famosa das despedidas num aeroporto, numa das cenas que marcaria para sempre a história do cinema, a frase nos remete ao glamour e ao romantismo que normalmente se espera da Cidade Luz.
Muitos deram muitos títulos à capital francesa. Porém, se há um denominador comum adequado para defini-la, muito provavelmente trata-se de sua cor. Paris já foi chamada à exaustão de luminosa e romântica, mas provavelmente não houve muita gente que a definiu como uma cidade amarela. E não amarela simplesmente, mas amarela em suas diversas matizes, seja o dourado vibrante dos portões do Palácio de Versalhes, o marrom desbotado das torres de Notre Dame ou o bege das paredes do Louvre.
Amarela ou não, Paris continua sendo Paris. Estar diante da Torre Eiffel, o monumento pago mais visitado do mundo, ainda é um sonho de consumo para muita gente. A torre, diga-se de passagem, é o maior cartão-postal da cidade e hoje pode ser um orgulho para os parisienses, mas não foi bem vinda durante sua construção. Projetada por Gustave Eiffel, ela foi construída para receber a World Expo em 1889, a mesma exposição cuja última edição foi realizada em Xangai. Naquela época, contudo, os moradores de Paris consideraram que a torre iria contrastar com o panorama da cidade. Mal sabiam eles que, décadas depois, a torre simplesmente seria o panorama da cidade; hoje não existe Paris sem a Torre Eiffel.
Mas Paris, é claro, tem outros pontos de visitação. Para quem desliza pelo Sena a bordo de um bateau-mouche, como são chamadas as embarcações turísticas que navegam pelo rio, haverá um momento em que surgirá uma ilha no caminho. É lá que fica o marco zero da cidade, gravado no piso de pedra sobre o local onde antigamente habitava um povo de origem celta, os parísios, que posteriormente emprestariam seu nome à capital da França. É lá que está também a Catedral de Notre Dame, com suas torres góticas cobertas de gárgulas, nas quais o mítico Corcunda batia os sinos.
Não muito longe dali, não mais na ilha, está o Museu do Louvre, lar da Mona Lisa e outras centenas de obras de arte não menos importantes como, por exemplo, La Liberté guidant le peuple (A Liberdade guiando o povo), pintura histórica de Eugène Delacroix que retrata a liberdade como uma mulher de seios nus carregando uma bandeira à frente da Revolução Francesa.
Foi ela, a liberdade, quem guiou o povo enfurecido ao Château de Versailles em 1789, de onde Luís XVI e sua rainha foram levados para a guilhotina. O palácio, que é um dos pontos turísticos mais visitados da França, foi construído por Luís XIV, o Rei Sol, a partir de um pavilhão de caça. Desde os portões dourados, passando pela opulenta Galeria dos Espelhos e continuando até os jardins, o palácio representa todo o luxo de uma realeza que arrancava suspiros de indignação do povo, até que este, de fato, se indignou e decidiu arrancar algumas cabeças.
E, por falar em arrancar suspiros, é difícil compreender exatamente o porquê de Paris ser, entre tantas outras capitais, a escolhida para fazer suspirar pessoas em todos os continentes. Outras cidades têm mais luz, outras cidades têm mais glamour e outras cidades são mais românticas. Contudo, Paris é amarela. Talvez seja exatamente por parecer uma grande e amarelada fotografia em tons de sépia que a cidade exerça tamanho fascínio, fazendo as pessoas pensarem que a terão para sempre, como os protagonistas de Casablanca. (G.P.)