Sim, vou falar sobre opinião e religião. Não espero que todos concordem comigo.
Para começar:
Todos vimos que o terremoto mais forte a atingir o Japão em 140 anos aconteceu na tarde de quinta-feira, 10 de março, e pontuou uma magnitude de 8.9 graus na escala Richter. O abalo sísmico aconteceu próximo à costa nordeste do país, a uma profundidade relativamente baixa, e ainda que estragos tenham ocorrido devido ao terremoto propriamente dito, foi a tsunami decorrente do tremor que causou mais vítimas. Posteriormente, explosões e vazamentos radioativos em Fukushima lançaram ao mundo o temor de um novo grande acidente nuclear.
Até o momento, tenho dois comentários a fazer sobre a reação das pessoas deste lado do mundo. Como eu disse, não espero que todos concordem comigo.
I
Nos dias que se seguiram, ouvi muita gente – inclusive na televisão – dizendo clichês como “com a natureza não se brinca” ou então “a natureza está se vingando”, várias vezes relacionando o triste acontecimento no Japão às agressões humanas ao meio ambiente e até mesmo ao aquecimento global. E isso não faz o mínimo sentido. Basta ter um pouquinho – só um pouquinho! – de discernimento para entender que um terremoto é um fenômeno puramente geológico, sem nenhuma relação causal com as atividades humanas. Se você abraçar um panda e plantar mais de 8 mil árvores, não vai fazer diferença, campeão, porque terremotos são inevitáveis. A natureza não está punindo ninguém. (E até mesmo a relação entre aquecimento global e atividade humana ainda encontra certas linhas de questionamentos científicos. Apesar da tal “verdade inconveniente” fazer sucesso entre ambientalistas e cults que querem parecer engajados, existem trabalhos científicos que relacionam as mudanças climáticas, por exemplo, a ciclos glaciais e muito menos à atividade humana do que esse pessoal gostaria. Bom, essa já é outra história.)
II
Voltando ao Japão, vem aí outro posicionamento que considero igualmente incoerente, desta vez postado em comentários relacionados a vídeos que registraram a tsunami engolindo a cidade de Sendai. Vários desses comentários – e depois encontrei posts inteiros – relacionavam os acontecimentos ocorridos no Japão àquilo que os autores chamaram de culto a “deuses estranhos” ou simplesmente outros deuses. Outro dizia que os japoneses deveriam abraçar Jesus Cristo – o único Deus – e deixar “os seus deuses” para trás. E eu me pergunto: com que critério alguém julga um deus estranho ou não, único ou não? Particularmente, não vejo sentido no discurso de religiosos como esses, que acreditam num Deus de amor, de perdão, de compreensão e de bondade, mas que ainda assim pode se mostrar punitivo ou então omisso ao permitir que os pagãos (e uso o termo sem nenhum juízo de valor) sofram e morram apenas por não serem católicos, evangélicos ou o que quer que sejam. Não questiono a crença, mas o discurso. Penso que falta um pouco de coerência interna. E, falando por mim, a imagem que tenho de Jesus Cristo não é nem um pouco parecida com essa. Se as pessoas pudessem, de fato, conversar com Ele cara a cara, eu acredito que as atitudes que elas tomam diante de suas vidas seriam mais relevantes do que o nome que elas dão aos seus deuses. Acho extremamente incoerente acreditar que pessoas estão sendo “punidas” (ou chame como quiser) porque não seguem uma ou outra religião. O mundo seria um lugar melhor se mais gente abrisse a cabeça para aquilo que é diferente.
E é só isso. (G.P.)