Ele havia sido o primeiro homem a viajar no tempo. E, então, lá estava, diante de si mesmo quando ainda era um garotinho, não mais do que cinco palmos acima do chão, olhando para ele cheio de curiosidade autêntica, como se, de alguma forma, fosse capaz de reconhecer a si mesmo várias décadas mais velho. Como se soubesse o que aquilo significava.
Como havia sentido saudades de si mesmo... Quando havia sido a última vez em que fora tão inocente? Tão capaz de alimentar as próprias fantasias? Tão feliz, talvez – ou ao menos algo próximo a isso? Ah, como ele gostaria de contar a si mesmo tudo o que iria acontecer, prepará-lo para as escolhas que teria de fazer e os erros que iria cometer. “Ah, se você soubesse...”, pensava ele, “se você pudesse saber antes.”
Mas ele não podia. Havia regras bem claras sobre isso: as pessoas só podem saber o que deveria ter sido feito depois que a possibilidade de fazer algo diferente já passou. Nada de segundas chances para aqueles que viajam no tempo. É assim que as coisas funcionam, e por isso não havia nada que pudesse ser dito.
O garotinho olhou para si mesmo e deu um passo à frente. O homem mais velho abaixou-se e os dois se olharam por um breve momento. Mesmo sem dizer nada, eles sabiam o que cada um estava sentindo. Dentro de cada um deles, havia algo do outro: um pouco do passado no futuro e, se é que era possível, um pouco do futuro no passado.
Ainda em silêncio, o garotinho tocou a barba do homem, e depois puxou de leve a sua gravata, achando graça naquilo que iria se tornar. E o homem abraçou o corpinho pequeno e frágil com todo o carinho, sabendo o peso de cada uma das escolhas que ele iria fazer até que decidisse voltar para aquele dia.
Sem dizer nada, eles apenas sorriram. Pelo mesmo motivo? Por motivos diferentes? Nenhum dos dois poderia dizer verdadeiramente. E, então, cada um seguiu seu caminho. O mesmo caminho, mas caminhos diferentes, um dia de cada vez. (G.P.)
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