Há muita discussão acerca da globalização na pós-modernidade, um fenômeno talvez ainda pouco compreendido que, ao derrubar fronteiras geográficas, culturais, políticas e principalmente comunicacionais, pode, em teoria, tornar homogênea toda e qualquer forma de expressão humana.
Mas eis que às vezes surgem manifestações apátridas e interculturais que, com todo o potencial de obras de arte (abusando da referência inevitável), acrescentam novos fatores a essa equação complexa. É o caso da obra Work of Art, da cantora e compositora brasileira Haikaa Yamamoto, que é interpretada em 19 idiomas diferentes e foi composta a partir de um projeto que envolveu letristas de todos os cantos do planeta.
A canção é interpretada em turco, mandarim, grego, coreano, francês, armênio, espanhol, holandês, português, japonês, árabe, italiano, dinamarquês, cantonês, hebraico, alemão, inglês e até mesmo guarani e lushootseed (dialeto de algumas etnias nativas da América do Norte), e ao fazê-lo com aparente maestria em cada um desses idiomas, a intérprete consegue tocar num ponto que transcende o processo de cognição de uma ou outra língua: o conceito de uma comunidade cultural global, em que a expressão humana migra livremente e assume formas híbridas aqui e acolá.
Particularmente, eu acredito que esse hibridismo é uma tendência daqui para a frente, em variadas esferas da existência social, como já mencionei aqui. Se é bom ou mau, certo ou errado, cabe a cada observador fazer uso de seu maniqueísmo pessoal para julgar, mas a questão é que se trata de um fenômeno irrefreável. E diante de obras de arte como o trabalho de Haikaa, é ótimo que seja assim. (G.P.)
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