segunda-feira, 3 de maio de 2010

A Estação

São muitos os que chegam à estação. E todos estão sozinhos. Às vezes chegam em pares, em dezenas, dúzias, grosas... Milhões todos os dias. Mas todos estão sozinhos. A solidão os acompanha de perto, fitando-os nas sombras. E também a saudade... É a mais sutil das particularidades humanas, mas uma das mais dolorosas. E aqui, na estação, ela se faz mais presente, pesando em cada ombro como uma tonelada de chumbo, como uma lágrima daquelas bem salgadas. Às vezes a saudade é a solidão, às vezes a solidão é a saudade.

São muitas as idades dos muitos que chegam à estação. A maioria traz consigo as rugas como troféus, profundos sulcos de sabedoria que o tempo talhou como um artesão molda sua madeira. Mas há aqueles que chegam jovens. Alguns são crianças em tenra idade, que poderiam muito bem levar nas costas as asas dos anjos – e quem sabe não levarão? Há também aqueles que carregam beijos de amor ainda mornos, e esses são de todos os mais tristes.

São muitos os rostos dos muitos que chegam à estação. Alguns chegam tristonhos. Alguns, curiosos. Muitos entoam preces, as últimas esperanças do ser humano. Apesar de na estação estarem todos incólumes, muitos parecem amedrontados. Há também aqueles resolutos, os únicos que compraram tickets, que carregam a triste obstinação dos suicidas. Há os desesperados e aqueles que parecem nem perceber o que aconteceu. E há os taciturnos, pensativos, que filosofam sobre o sentido de todas as coisas. Mas alguns – poucos, é verdade – sorriem do fundo do coração, talvez porque tenham finalmente entendido a verdade que sempre buscaram, ou descoberto que, no final das contas, tudo não passou de uma grande e divertida piada.

Nenhum dos muitos que chegam à estação traz malas pesadas. Nem mesmo bagagem de mão eles levam. Nada, na verdade. Mas, ao mesmo tempo, levam tudo. Levam eles mesmos, que é tudo o que têm agora e tudo o que sempre tiveram. Nenhum deles sabe para onde estão levando, apesar de alguns continuarem conjecturando em meio a uma e outra prece.

Há muitos de muitas cores, muitos de muitas raças, muitos de muitas classes sociais, muitos falantes de muitas línguas, muitos crentes de muitas religiões. Na estação, são todos iguais. Eles sempre foram, mas talvez só agora se dêem conta. Realmente dizem que as pessoas só entendem essas coisas quando é tarde demais.

Quando chega a hora, todos sobem no trem.

É a última metáfora. É o último eufemismo. (G.P.)

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