sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sobre a efemeridade (+ haikai #3 e haikai #4)

“Nós somos efêmeros”,
às flores da cerejeira
o homem falou.

Não tem rumo certo
a libélula que vaga
no mundo efêmero.

A efemeridade é a qualidade daquilo que é efêmero, transitório, cuja duração é curta. Por algum motivo, este é um conceito que soa assustador e belo para mim. Tudo que é efêmero é mais frágil e, portanto, digno de maior apreço. É claro que tudo – sem exceções – é efêmero, se você pensar nisso ao extremo.

Amazing Sky

Airport worker
Um crepúsculo, é claro, é efêmero.

Loneliness

Sweet poison
Uma gota sob ação da gravidade é obviamente efêmera.

Sunset in Beijing

Pigeon and infinity
Nuvens são efêmeras.

E o que não é? Nós também somos. O próprio universo, para quem acredita no Big Bang, é efêmero; quando ele deixar de se expandir, tempo e espaço (e todo o resto) voltarão para dentro do ovo cósmico. Para quem acredita no Juízo Final, o mundo também é efêmero. Não importa; sob a perspectiva da eternidade, tudo que é finito é efêmero.

Então, tudo o que se tem é uma única chance para tudo. Se eu não me engano foi Heráclito quem disse que não se pode atravessar um mesmo rio duas vezes. É verdade. Quando você chega do outro lado, você se torna o cara que já atravessou o rio uma vez, e esse cara é diferente do cara que nunca atravessou o rio. As águas também serão outras, de forma que as versões anteriores de você e do rio não mais existirão. É a idiossincrasia de cada segundo; a idiossincrasia de qualquer coisa, na verdade. (G.P.)

2 comentários:

  1. Para a lagarta é o fim, a morte. Para a borboleta, é apenas o começo. Talvez a mudança seja mais certa que o fim. Quem sabe o quem vem depois de atravessar o rio?

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  2. Então, como ia te dizendo no msn...
    Se pensarmos no que acaba, ficamos assustados.
    Mas...se algo acaba, é pq outra se inicia.

    E tudo que é novo tem o "exalar de frutas frescas"...

    Isso que vale a pena!

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