Baseado no livro homônimo, o filme As Crônicas de Nárnia: A viagem do Peregrino da Alvorada (The Chronicles of Narnia: Voyage of the Dawn Treader, 2010) é um retorno ao mundo mágico criado pelo autor inglês Clive Staples Lewis. No longa, os irmãos Edmundo (Skandar Keynes) e Lúcia (Georgie Henley) voltam ao reino de Nárnia por meio de uma pintura pregada na parede da casa de seu primo Eustáquio (Will Poulter). Depois de caírem num oceano revolto, as crianças embarcam no navio que dá título à estória, o qual está levando o atual rei de Nárnia, o jovem Caspian (Ben Barnes), a uma jornada em busca de sete lordes exilados de seu reino.
Adornada com belíssimos efeitos 3D, a fotografia de Dante Spinotti é um dos pontos altos deste filme. Sobre o roteiro, contudo, não se pode dizer a mesma coisa. O tropeço na adaptação aconteceu quando se quis transformar a estória num épico, o que se mostra um erro, pois o material original, o livro de Lewis, não é um épico. É uma crônica. É por isso que o título é As Crônicas de Nárnia. Crônicas. Não épicos. Não é a mesma coisa.
Dessa forma, para dar fôlego extra à narrativa, foi necessário enxertar a trama com elementos completamente novos em relação à obra original, a começar por personagens como a mãe raptada pela fumaça verde (e toda a sua família, para não falar da própria fumaça verde), além das espadas dos sete fidalgos, que, de acordo com o roteiro (assinado por Stephen McFeely, Christopher Markus e Michael Petroni) deveriam ser colocadas na mesa de Aslam para vencer o mal que vem da ilha dos pesadelos. Primeiramente, esse “mal” não existe na obra de C. S. Lewis, uma vez que a referida ilha – no livro chamada de “a ilha onde os Sonhos se tornam realidade” – aparece em não mais do que cinco páginas. No livro, o atual rei de Nárnia não parte em sua viagem para vencer mal algum, mas sim por uma questão de honra.
O problema é que para amarrar todos os acontecimentos, foi preciso aumentar o nível de perigo a ponto de criar um épico que dê sequência aos dois primeiros filmes. Assim, cria-se uma urgência maior para se encontrar os sete lordes. Para suprir esse objetivo, contudo, perde-se um pouco da poesia do texto original, especialmente numa estória em que um navio navega rumo ao fim do mundo – num mundo em que céu e mar se unem num oceano de lírios brancos. Se a adaptação seguisse por um outro rumo, talvez tivéssemos uma obra capaz de abranger um pouco mais a busca pelos limites da existência, conceito esse que, na obra de Lewis, surge – veja só! – por meio de um rato e não de um homem.
O personagem em questão é o ratinho Ripchip, o qual, na minha opinião, é um dos melhores personagens de fantasia já criados até hoje (ao lado de Gandalf e da princesa Éowyn, de O Senhor dos Anéis, e do Morte, da série Discworld – e, antes que muitos se perguntem, sim, Morte é um homem).
Voltando ao Ripchip de Lewis, assim ele é descrito: “Podia-se dizer que era um rato, e era realmente. Mas um rato com cerca de sessenta centímetros de altura, caminhando apoiado nas patas traseiras. Atada à cabeça, por baixo de uma orelha e por cima de outra, exibia uma fina fita dourada na qual se prendia uma pena vermelha. (...) Apoiava a pata esquerda no punho de uma espada quase tão comprida quanto sua cauda.” É essa espada que Ripchip usa para defender veementemente sua honra, e é a mesma que, no livro, ele atira ao mar de lírios antes de ficar para sempre no país de Aslam. É a metáfora de alguém que, mesmo pequeno, lutou por seus princípios e chegou aonde sonhava. A força da metáfora, porém, se perde na adaptação, o que é uma pena.
O que não se perde, felizmente, é a referência cristã que permeia a obra de Lewis. Nesse filme em particular, a maior dessas referências acontece no seguinte diálogo (que pode ser acompanhado na pág. 514 do volume único de As Crônicas de Nárnia, lançado no Brasil pela editora Martins Fontes em 2005):
– Nosso mundo é Nárnia – soluçou Lúcia. – Como poderemos viver sem vê-lo?
– Você há de encontrar-me, querida – disse Aslam.
– Está também em nosso mundo? – perguntou Edmundo.
– Estou. Mas tenho outro nome. Têm de aprender a conhecer-me por esse nome. Foi por isso que os levei a Nárnia, para que, conhecendo-me um pouco, venham a conhecer-me melhor.
Esse outro nome ao qual Aslam se refere é Jesus. Isso ficou claro no primeiro filme, especialmente quando Aslam morre pelos pecados de um filho de Adão e ressuscita em seguida. É bom constatar que, apesar das diferenças existentes entre as linguagens literária e cinematográfica, essas referências – que são temas fundamentais à obra de Lewis – não passaram despercebidas. Quanto aos outros aspectos que se perderam, só podemos lamentar. (G.P.)
Mais críticas: Alice no País das Maravilhas
Adornada com belíssimos efeitos 3D, a fotografia de Dante Spinotti é um dos pontos altos deste filme. Sobre o roteiro, contudo, não se pode dizer a mesma coisa. O tropeço na adaptação aconteceu quando se quis transformar a estória num épico, o que se mostra um erro, pois o material original, o livro de Lewis, não é um épico. É uma crônica. É por isso que o título é As Crônicas de Nárnia. Crônicas. Não épicos. Não é a mesma coisa.
Dessa forma, para dar fôlego extra à narrativa, foi necessário enxertar a trama com elementos completamente novos em relação à obra original, a começar por personagens como a mãe raptada pela fumaça verde (e toda a sua família, para não falar da própria fumaça verde), além das espadas dos sete fidalgos, que, de acordo com o roteiro (assinado por Stephen McFeely, Christopher Markus e Michael Petroni) deveriam ser colocadas na mesa de Aslam para vencer o mal que vem da ilha dos pesadelos. Primeiramente, esse “mal” não existe na obra de C. S. Lewis, uma vez que a referida ilha – no livro chamada de “a ilha onde os Sonhos se tornam realidade” – aparece em não mais do que cinco páginas. No livro, o atual rei de Nárnia não parte em sua viagem para vencer mal algum, mas sim por uma questão de honra.
O problema é que para amarrar todos os acontecimentos, foi preciso aumentar o nível de perigo a ponto de criar um épico que dê sequência aos dois primeiros filmes. Assim, cria-se uma urgência maior para se encontrar os sete lordes. Para suprir esse objetivo, contudo, perde-se um pouco da poesia do texto original, especialmente numa estória em que um navio navega rumo ao fim do mundo – num mundo em que céu e mar se unem num oceano de lírios brancos. Se a adaptação seguisse por um outro rumo, talvez tivéssemos uma obra capaz de abranger um pouco mais a busca pelos limites da existência, conceito esse que, na obra de Lewis, surge – veja só! – por meio de um rato e não de um homem.
O personagem em questão é o ratinho Ripchip, o qual, na minha opinião, é um dos melhores personagens de fantasia já criados até hoje (ao lado de Gandalf e da princesa Éowyn, de O Senhor dos Anéis, e do Morte, da série Discworld – e, antes que muitos se perguntem, sim, Morte é um homem).
Voltando ao Ripchip de Lewis, assim ele é descrito: “Podia-se dizer que era um rato, e era realmente. Mas um rato com cerca de sessenta centímetros de altura, caminhando apoiado nas patas traseiras. Atada à cabeça, por baixo de uma orelha e por cima de outra, exibia uma fina fita dourada na qual se prendia uma pena vermelha. (...) Apoiava a pata esquerda no punho de uma espada quase tão comprida quanto sua cauda.” É essa espada que Ripchip usa para defender veementemente sua honra, e é a mesma que, no livro, ele atira ao mar de lírios antes de ficar para sempre no país de Aslam. É a metáfora de alguém que, mesmo pequeno, lutou por seus princípios e chegou aonde sonhava. A força da metáfora, porém, se perde na adaptação, o que é uma pena.
O que não se perde, felizmente, é a referência cristã que permeia a obra de Lewis. Nesse filme em particular, a maior dessas referências acontece no seguinte diálogo (que pode ser acompanhado na pág. 514 do volume único de As Crônicas de Nárnia, lançado no Brasil pela editora Martins Fontes em 2005):
– Nosso mundo é Nárnia – soluçou Lúcia. – Como poderemos viver sem vê-lo?
– Você há de encontrar-me, querida – disse Aslam.
– Está também em nosso mundo? – perguntou Edmundo.
– Estou. Mas tenho outro nome. Têm de aprender a conhecer-me por esse nome. Foi por isso que os levei a Nárnia, para que, conhecendo-me um pouco, venham a conhecer-me melhor.
Esse outro nome ao qual Aslam se refere é Jesus. Isso ficou claro no primeiro filme, especialmente quando Aslam morre pelos pecados de um filho de Adão e ressuscita em seguida. É bom constatar que, apesar das diferenças existentes entre as linguagens literária e cinematográfica, essas referências – que são temas fundamentais à obra de Lewis – não passaram despercebidas. Quanto aos outros aspectos que se perderam, só podemos lamentar. (G.P.)
Mais críticas: Alice no País das Maravilhas
Vale lembrar que durante o terceiro filme, o rato, que sempre demonstrou ter um forte caráter e valores sólidos, optou por ir ao país de Aslam, do qual não poderia retornar. O Rei, cujo pai já estava no país de de Aslam, também teve sua ida ao referido país aprovada, porém, preferiu ficar para ajudar os que ainda não tem a passagem livre para um mundo melhor. Em contra partida, o rato, que mais do que merecido, decidiu continuar sua jornada na evolução e para tanto ingressou no país de Aslam. Por outro lado, os meninos pedro e lucia, não poderiam voltar à Narnia, contudo, isso não atrapalharia em nada a evolução deles, já que na terra temos vários exemplos de Aslam, como Jesus Cristo, Buda, Cristina, etc. Basta que eles o procurem, como o leão alertou com o nome diferente.
ResponderExcluirPra mim existe uma alusão clara ao livro dos mortos tibetano e ao cristianismo em geral, principalmente o espiritismo.
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