sexta-feira, 26 de março de 2010

Sobre fantasia, jornalismo e dinossauros


Quando eu era criança, era de dinossauros que eu realmente gostava. Eu sabia os nomes de muitos deles e costumava assistir a Jurassic Park repetidamente, às vezes escondido embaixo da cama durante as partes que eu considerava mais assustadoras. Naquela época, eu queria ser paleontólogo; a ideia de passar horas num deserto escavando ossadas enterradas há milhões de anos me parecia muito tentadora. Foram sobre dinossauros os primeiros livros que li e, desses, eu parti rumo à literatura fantástica. Desde então, não parei de ler e, consequentemente, escrever. Para mim, ambas as atividades fazem parte de um processo único e irrefreável.

Sendo um apreciador irremediável de fantasia, desde a realista à mais absurda possível, é esse o gênero que mais me dá prazer. Foi escrevendo esse gênero que tive meus dois primeiros livros publicados há quatro anos e, ainda hoje, é esse o gênero com o qual eu realmente gosto de lidar. Assim, é desnecessário dizer que considero a fantasia algo inebriante. Como certa vez já disse o meu autor favorito, Terry Pratchett, “Fantasia é como o álcool. Em excesso faz mal a você, mas um pouco toda semana torna o mundo um lugar melhor.” Ele é autor de uma épica série de mais de 30 livros, além de obras independentes, e sua fantasia é a mais absurda e inteligente com a qual eu me deparei até hoje. Mas, mais do que escrever fantasia, o que ele faz é uma releitura crítica do nosso mundo como nenhum outro escritor considerado “sério” é capaz de fazer. E, além disso, ele é jornalista.

Chegamos portanto ao Jornalismo, o ofício que, tal qual o autor que admiro, eu escolhi para mim. Não posso dizer que o escolhi porque amo ser repórter ou editor. Na verdade, o que eu amo mesmo é escrever, e não é só na fantasia que eu encontro personagens e temas. Até mesmo porque, corriqueiramente, a realidade pode se apresentar mais inverossímil do que aquilo que a maioria das pessoas considera fantasia. E, ao formatarmos essa realidade, a colocarmos em caixas e vendê-las ao mundo, também estamos criando uma parcela de fantasia. É uma questão semiótica: se eu disser para duas pessoas imaginarem uma flor, cada uma delas imaginará uma flor diferente. O mesmo vale para tijolos, por exemplo, e qualquer outro signo mundano. Simples assim, porque signos não são sólidos.

Ideias também não são sólidas – apesar de que algumas delas podem causar mais estragos do que, digamos, tijolos. Elas só precisam de uma partícula de inspiração para entrar em ebulição, e aí elas passam a querer escapar. E assim, o que eu faço é trazê-las à tona, como o paleontólogo que tira os ossos do seio da terra e revela o passado. No final das contas, eu estou fazendo o mesmo que aquele garotinho cheio de sonhos sobre dinossauros gostaria de fazer. (G.P.)

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