Quando você olha para algo que está à sua frente, o ato de enxergar não acontece em tempo real. A luz viaja a 299792458 metros por segundo, é verdade, o que quer dizer que a fração de tempo necessária para que a luz chegue aos olhos é ínfima. Some a isso outra ínfima fração de tempo para que a informação visual seja processada em estímulos elétricos e você terá, em termos gerais, pouco mais que nada. Ainda assim, não enxergamos em tempo real. Ou seja, o que nós vemos no presente já é passado, uma realidade no limbo entre o que existe e o que é visto.
Assim sendo, poderíamos continuar divagando sobre a efemeridade ou sobre aquele cara que atravessou o rio, mas não. Hoje o assunto é realidade. E também interpretação, porque uma coisa não funciona sem a outra. Vamos lá então.
Definição de dicionário: real, do latim reale, é aquilo “que tem existência no mundo dos sentidos”. Em outras palavras, se você sente, é real. Muitas vezes, porém, as pessoas sentem coisas que não são passíveis de mensuração empírica. Seguindo essa definição, tudo que alguém pode sentir é tão real quanto, digamos, uma tijolada entre as omoplatas na calada da noite. Mas o dicionário continua: real é aquilo “que não é imaginário”. Porém, é difícil definir o que é imaginário ou não. Até porque, numa perspectiva quântica, tudo é energia, e, portanto, tudo é nada. Os átomos e as sinapses mais alcoolizadas são ambos feitos de nada. É algo que os budistas já sabiam há muito tempo e que a Ciência com C maiúsculo vem descobrindo recentemente – mas essa é outra história.
O fato é que imaginação e realidade (ou realidade e interpretação individual da realidade, o que muitas vezes não é muito diferente de imaginação), sob a ótica certa, podem ser separadas apenas por uma linha tênue, como o reflexo de uma montanha e a própria montanha. Quem é que pode dizer o que é mais real? (G.P.)