É difícil entender o porquê de uma pessoa odiar o multiculturalismo. Mais do que isso, é difícil entender como tal ódio pode culminar em atitudes extremas como o atentado de 22 de julho, ocorrido em Oslo, capital da Noruega.
Motivado por um posicionamento político ultranacionalista e pela repulsa principalmente a judeus e islâmicos, o empresário Anders Behring Breivik, 32 anos, utilizou bombas manufaturadas a partir de fertilizantes para atentar contra a sede do governo norueguês. Na sequência, ele rumou para Utoya, uma ilha a cerca de 40 km do centro da capital, onde estava sendo realizado um acampamento de jovens promovido pelo Partido Trabalhista norueguês, de centro-esquerda. Disfarçado de policial, ele atirou contra os jovens, matando 68. Os dois atentados, que deveriam chamar a atenção para a causa de Breivik, resultaram em 70 vítimas fatais.
“Posso não concordar com o que dizem, mas defendo até a morte o direito de dizer.” A frase é atribuída a Voltaire, filósofo francês que viveu entre os séculos XVII e XVIII, e ainda é relevante, especialmente numa nação democrática como a Noruega, onde um indivíduo tem o direito de ter suas próprias opiniões – ainda que sejam opiniões como a de Breivik. Afinal, negar o direito de alguém expor sua opinião é, de certa forma, negar a própria pluralidade. O que é inadmissível é que esse direito à opinião seja usado como combustível para calar opiniões alheias e ceifar vidas inocentes como aconteceu na capital norueguesa.
Ironicamente, é em Oslo que o Prêmio Nobel da Paz é entregue anualmente a pessoas que tenham contribuído para a fraternidade entre as nações e se destacado em seus esforços pela manutenção da paz mundial.
Ainda assim, sangue foi derramado na capital da paz.
Acontecimentos como esse fazem a gente se perguntar qual é o futuro do conturbado mundo pós-moderno. A Guerra Fria se foi, o mundo polarizado ficou para trás e – ainda que muita gente prefira se fechar em suas fortalezas como um caracol – as fronteiras caíram e as culturas fervilham por aí.
O vídeo Where the Hell is Matt? é resultado do trabalho de Matt Harding,
que viajou pelo mundo fazendo sua dancinha aqui e acolá,
com pessoas diferentes em mais de 40 países
O mundo não é mais apenas multicultural, mas intercultural. E, provavelmente, ele será um lugar melhor quando as pessoas dançarem juntas, onde quer que elas estejam, a despeito de suas cores, suas línguas, seus deuses e suas visões políticas. (G.P.)
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